segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quase lá.


Confesso que por alguns instantes consegui me entregar à escuridão daquelas paixonites de verão. Pra ser exato, dois dias. (Não que paixões tenham prazo de validade ou algo do tipo.) Mas, eu sem querer percebi que era inverno e que em mim não floresce mais amor. Viu? Eu tento. Tentei de verdade me apegar. Me vi tentando contornar defeitos, admirar coisas outrora dispensáveis. Juro que tinha esquecido o sabor de brigadeiro nesses dias chuvosos. Nesses dias em que chove dentro da gente. Missão suicida. Assassinei o flagelo que já quase pulsava amor. Pausa.

É engraçado o fato d’eu ainda precisar destes suplementos pra ir subsistindo. É mesmo triste quando a gente desiste da vida e percebe, aos poucos, que ela vai desistindo da gente também.

Depois de tanto tempo de morada – dois dias e algumas horas – me vi à porta de entrada de minha casa, com todas minhas bagagens postas, esperando para serem redistribuídas pelos cômodos da casa vazia. Confesso que senti uma dorzinha. Peguei-me com receio de desembalar meus pertences cogitando a possibilidade de um talvez. 
Um possível talvez de abrigar aquele coração por mais alguns dias. De, talvez, me render mais uma vez àquilo que eu não acreditava mais. Não deu. Clamei por mim.

Em casa.
(Só que ainda não me sinto aqui. Ainda tá faltando algo que eu não sei. Não me sei. Parece que desaprendi a viver nessa casa enorme e vazia. Com esse silêncio que grita; uiva sem parar. Exorbito-me de mim junto ao meu silêncio que me desconcerta. Mesmo aqui, em mim, não me encontro. Desencontros. Sei que sou feito destes, mas mesmo por esses caminhos eu sempre me via de longe. Preciso entrar em contato. Preciso tocar em mim.)

Esgoto me nessas palavras. Demasiadamente, vou ficando nas entrelinhas e, nesse ponto, já quase não me resto. Já quase não me sou. Já quase não existo nesse medo de, possivelmente, ter deixado partes de mim perdidas nas tais paixões que já nem existem mais.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sem Céus.


Lá vou eu me dilacerar mais uma vez. 

Picotarei cada minúscula parte de minha alma procurando por respostas que descansam na minha silenciosa escuridão. Mentiras criadas por mim que ironicamente são as mais verdadeiras que possuo. Sou eu o autor de minhas meias-verdades. E que me mentem.  Eu me minto todo.

Estou em crise: não, a vida não é feliz. Sei bem, porque agora mesmo me observo e te digo: tá pra nascer sujeito mais sem cor do que eu. Sou inteiramente preto e branco. Cadê os sentimentos? Cadê as cores, Céus? Sou a corrosão das montanhas condenadas a permanecerem sós, a sós com suas almas inquietantes, postas propositalmente, quietas. Eu me autoboicoto e ainda me sofro todo. Doou-me e me dou; dói-me a rejeição. Ouça o que vou te dizer: corre se esconder porque o monstro vem aí. Meus demônios são mais fortes que eu.

Fui-me por tanto tempo que já não me sei: perdi. Sempre perco. Perco o que queria antes e que agora faz parte de mim. Perco tudo que um dia quis, consegui, dispenso. Eu sou dispensável e faço do meu estado o estado certo para dispensar o que lutei pra conseguir - e agora já não quero mais. Quero-te porque tu és inalcançável, senão, não te desejaria tanto. Eu gosto do jogo. Gostava. Estou cansado da exaustão que o cansaço me causa.
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Faz frio e eu estou prestar a entrar num mar gelado. O que acabei de te dar foi apenas o meu pé tocando a camada superficial e insustentável da água congelante. Não posso mais te livrar de meus demônios: sou-os. Vivo-os.
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A palavra profana que assola o mundo que mesmo em brasas, sorri. Sorri em círculos pra não ver como o mundo realmente é. Já não sorriem; disfarçam a tristeza adormecida. O que jaz em mim morre em cada palavra dita. O que vive em mim me mata há cada suspiro. Minhas lágrimas - pura consequência das batalhas que num grito inaudível travei com minhas sombras – me alertam de que vou voltando a minha derradeira humanidade. Os demônios se contorcem em mim.

Eu sou as sombras dos locais demoníacos de sacrilégios. Sou o grito dos inocentes a serem sacrificados em terra maldita. Sou a terra maldita cujos olhos daqueles que conseguem ver, se amedrontam. Fogem de mim. O sentimento me escapa e me afunda de vez nesse mar gélido e negro. Minha alma, entretanto, estereotipada no negror da noite se acolhe nas águas demoníacas.
Onde estão minhas asas? Oh, Senhor Tenha Piedade de Mim.
Não quero mais ser o Rei da escuridão. Não quero amores boicatodos. Sentimentos mal somados. Sugadores de sangue que andam durante o dia.

Eu quero a simplicidade de ser ar, luz, paixão. Ser feliz. Ser amor. Minha alma grita por um pouco de sanidade.  Sanidade? NÃO! Porque o amor é o pai de toda insanidade. Minha alma busca paz. Sentir: qualquer coisa que seja.

Ei, você! Vem me fazer sentir, sim? Corre pra minha vida e me pede um abraço. Eu te quero sim, e com flores.

Vê onde cheguei? Desfiz-me como rosa em mão de cravo. Escrevi sobre mim e, no entanto me conheço menos. Oh, céus. Entender-me vai além do dizível. Porque em mim pulsa a vida e a morte; ambos esperando o momento preciso para me golpear. 

Por enquanto, me guardo no meu aguardo; inerte.

Tenho em mim todos os sonhos do mundo... Não! Quero apenas os meus. “Quais?” Eu quero você que me lê e chegou até aqui. Tu és meu único sonho! Guarda uma fatia de bolo e me convida pr’um chá, ok? Guarda um espaço nesse teu coração recheado pra mim, sim? Eu te quero tanto e só tu não o sabes. E eu nem sei quem tu és. Ainda me desconheço.

Mas ei de descobrir. Ei de ser feliz.
Ei.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Vislumbre



Tô aqui no meu balanço, cabisbaixo como sempre. Tô aqui desse lado contrário, me retorcendo todo pra te dizer que você faz falta. Que eu não consigo parar de pensar em você: que às vezes te esqueço, mas às vezes, nessas tardes vazias eu tropeço em você. E você volta, lentamente, com aquela nossa música ao fundo fantasiando ainda mais esse pseudo momento de paz. E me enche os olhos. Enche-me o coração. 

Hoje somos tão longe. Tão ímpares. 

É ruim acordar de um sonho bom.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

É tipo lagarta e borboleta.


(...)

Foi nessa pergunta meio estúpida que dançava perdida em meio a imensidão da minha escuridão, esperando para ser descoberta e desembocar numa avalanche de verdades e sentimentos tão vívidos que uma vida só não seria suficiente para vivê-los.

É tipo lagarta e borboleta.

Acredito que chega uma hora em que há tantos sentimentos colidindo entre si dentro daquele corpo retorcido, pequeno, que ele precisa (e busca) desesperadamente por uma casca mais resistente pra tal alma trovejante. É aí que nasce a borboleta... Mais leve, mais pura, mais bonita. Aí nasce aquela perfeição fragmentada com cores da alma. Eu gosto de borboletas.

domingo, 27 de maio de 2012


Era só mais um no meio de tantos. E sorria sempre, sempre que podia sorria e tentava – num último pedido de socorro de si mesmo – sorria para dentro. Olhava para sua escuridão e sorria tentando encontrar algo de que pudesse se orgulhar ou que lhe relembrasse algum vestígio de alegria. Alegria faltava. Faltava tudo, mas sobrava escuridão.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mais uma vez, sem data pra voltar.

Olhar pra página em branco e sentir medo do que esta por vir. Sinto-me perdido e penso que, ao completar a página estarei ainda mais – na verdade, escrever concede a mim a aceitação de estar perdido. Parece que à medida que escrevo vou me empurrando para dentro desse labirinto que sou. Estou tão dolorido pelas forças que me apedrejam e me sufocam. Estar perdido tendo como companhia a solidão; vou vivendo sem propósito. Sou um mártir desvairado com uma folha à mão tentando não me perder num labirinto que já sou parte. Só queria poder me encontrar e encontrar aos outros pra deixar de ser só. Tenho tantos mas ninguém me é. Quero aqueles que possam me ser. Sem dor.

Sem cor. Tão novo, tão perdido, tão sozinho, tão.  A vida e seus maus momentos eternos que me assombram e me vivem. A solidão me acolheu e como um, éramos – mas agora, depois de tanto tempo, não quero mais. Cansei de ser só; não aguento. Mas ainda não sei lidar; com as coisas, com as pessoas, com os fatos. Eu afasto quem se dá; fecho-me pro mundo e me recuso a ser deles. E não sei como não ser só sendo como eu sou. Nasci pra ser sozinho, essa é a minha bagagem. Estou cansado.

E o mais pesado é não poder deixar toda a dor transparecer.
Continuo fazendo o que sei que me fará sangrar.
Apago meus medos,
Minhas dores,
Minhas fraquezas.
Estou partindo mais uma vez, sem data pra voltar.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Põe o título, pula uma linha, parágrafo... Agora escreve a dor.

Desesperar a dor é liberar o próprio espasmo minuciosamente enjaulado. É buscar esse contorcer-se dentro de si.
O sangue que escorrerá será negro (que vem direto da alma). A escuridão será expulsa para que, enfim, a luz possa entrar. A casa estará aberta para as idéias, para as visitas e para os novos anseios. O corpo se recuperará das feridas (apesar de dolorido por tempos) e aprenderá a conviver com as marcas. Novas surgirão. Novas serão escritas com a mesma cor sobre as antigas; a fonte mudará. Um novo céu se aproximará e então vai depender só de você decidir se será azul, ou se será escuridão. De qualquer modo, sempre haverá um Sol. E sempre haverá uma Lua. E de qualquer modo, nunca saberemos qual será melhor antes de vivê-los. Acentuar a dor é dar reticências ao desespero e nestes casos me antecipo: escrevo no escuro para que a escuridão me cegue e que nenhuma outra cor me surpreenda. Já não me sei.

Escreveremos sobre coisas que não entendemos e quando entendermos não poderão mais serem ditas por nós.