Vivi em busca de minha apatia e parece-me que a encontrei.
Amanheceu.
Mais uma vez cai, parece-me que não posso viver frio e vazio. Vejo que o que é meu virá, mesmo que eu o entregue à liberdade. Tudo está programado. E, por mais que eu renegue, está confiado a mim, e apenas a mim, passar pelos vales monstruosos e escuros do “negar mais que querer”. Hoje, mais uma vez, vivi como um gato.
Gatos mendigam por carinho, existem por carinho e vivem, solenemente, por carinho.
Eu, eu que jurei não mais fazê-lo. Eu que jurei ser auto-suficiente. Eu que me destruo dia após dia. Súbito, me vi ajoelhado, ávido por perdão. Chega, penso todos os dias, não serei mais; permanecerei só até o fim. Mas não consigo, minha alma fora levada e de repente já estava de volta a mim. Porque a solidão ainda me fascina, você pode ouvi-la? Vejo-me atrás de pseudo palavras absortas que, buscam incansavelmente, criar-me em um novo eu. Porque não quero e mesmo assim desejo. Porque meu corpo se divide; não entre alma e corpo. Divide-se entre corpo e corpo, e ainda sim resta espaço para a alma que se opõe contra meus dois lados cárneos. Estou cansado de lutar contra minhas palavras e meus lados e minha alma. Estou cansado dessa oposição que se cria dentro de mim e que me dilacera pelas noites, e me faz vagar sem causa pela luz diurna. Viver encontra outro significado quando a exaustão encontra seu ponto ótimo e recaem sobre mim todas as ruínas dos sonhos e dos amores que não determinei fim, vivo-os para sempre. Porque estou no meio da estrada e não sei para onde ir.
Novos dias, velho coração.
Eu não vivo por amor. (Eu não me importo.)
Frenesi. Epifania. Meus demônios me venceram, finalmente. Convenceram-me a partir.
Anjos. Comprimidos. Desespero. Desistir. Caídos.
A força da gravidade está mais forte. Todos os momentos desperdiçados, todos os gatos chutados. Não ter ponto de apoio nunca me fez tanta falta. Com um simples sopro minha montanha de superficialidade poderia desabar – agora eu poço entender. A solidão alcançava seu clímax, vencendo minha insensibilidade me fez cair, cai tão fundo que é impossível levantar-me. Em desespero clamei por uma fada, mas reaprendi que ela nunca viria.
Tarde demais.
Morria o covarde que perdido, sem coragem de prosseguir, desistiu.
Morte. Observo-a, está cansada: essas almas são as que mais pesam.