domingo, 12 de junho de 2011

É tempo, é medo e é falta.

– A ele? – gritou Snape. – Expecto patronum!

Da ponta de sua varinha irrompeu a corça prateada: ela pousou, correu pelo soalho do gabinete e saiu voando pela janela. Dumbledore observou-a se afastando pelos ares e, quando seu brilho prateado se dissipou, ele se dirigiu a Snape e seus olhos estavam cheios de lágrimas.

– Depois de todo esse tempo?
– Sempre – respondeu Snape.
J.K. Rowling


E esses domingos que nos matam, hein? Ninguém dá jeito? E essas portas fechadas que ninguém abre, hein Zé. Tô aqui sendo corroído pela saudade que me bate tão forte que mal suporto, caio Zé, caio e mal levanto. É muita falta pra pouco espaço, sobra; sobra de dor. E esse medo de saudade das coisas estupendas? Como pode Zé, tanta coisa boa passar desse jeito? Não posso. Não deixo. Não posso não deixar. É esse tempo minha única certeza inconstante; esse tempo que brinca, ri da nossa cara e só passa. Vive passando! Como pode ser assim: flutua, voa, é tão liberto que nunca para. E como alguém poderia parar naquilo que nunca para? Naquele coração que outrora nunca ninguém parou? Como poderia. Podia? Se podia. E não sabia. Porque ainda era tão cedo e já era tão tarde; éramos tão felizes enquanto passávamos e não víamos. Pois agora sou e agora já não sou o que era há segundos atrás. Segui em frente, com letras, espaços e vírgulas. Segui, e o tempo? Veio junto e isso me amedronta: Tô andando junto ao tempo! E depois, depois que eu parar – o tempo vai continuar e eu, o que faço? Continuo, como? Não posso. Porque paro dentro de mim, às vezes é tamanha dor que levanto da cama e ainda permaneço nela. Como ontem, tamanha ousadia nunca me ferira tanto; como ontem, nenhum bêbado de vida dissera-me palavras que me doessem tanto. E como doíam, e como se debatiam as palavras dentro de mim. E reverberavam, uh!, e como reverberavam dentro de mim. Eu tentei não ouvir, mas aquele uníssono era mais forte; rendi-me a palavras tão puras e alcoólatras. “E você, menino, vai fazer o quê? Vai esperar pela vida até que a morte a leve? E você sabe o que é a morte, menino, sabe o que é a vida? Pois não parece, vive ai esperando, um dia chega, rapaz, um dia a morte aparece pra você. E ai, meu querido, você vai perceber que a vida passou e você nem viu. Corre atrás, anda, não para porque a vida tá logo ali.” E ah, Senhor, colocaste tal homem em minha frente e me tiraste totalmente a visão. E como, e por que dá-se a vida e tira-se o prazer de poder senti-la? Como, Senhor, eu poderia viver apenas comigo se precisava dela? Eu não saberia, e se saberia, não poderia. E nesse espasmo corri. E só. Corri como onça, Zé. Naquela plenitude fui mais rápido do que aquele coração que batia frente a ela. E nesse correr, amigo, nunca fui tão livre. Nesse correr, nunca corri sem saber pra onde ia. Corri atrás desse tempo que estava passando sem mim, Zé, corri tanto que me exorbitei daquele que um dia eu fui. E agora, tô aqui nesses barrancos de novo, e como pode, como poderia, se poderia, se podia, como? Tiraste-te me da lentidão para retroceder-me, Senhor? E não, a culpa não é tua. É minha; minha por não agarrar com os dentes aquele tempo que passava e não parava. E aquele meu coração que ia se contorcendo, reprimindo, contraindo pra caber dentro daquela moça que ainda vive aqui, apesar de tanto tempo e apesar de tantas lágrimas. Ainda vive aqui. E ah!, como vive. Você bem sabe Zé. E a culpa é minha, e eu sei que é minha, mas e agora? Culpo-me; tô me culpando por tudo. E agora, quem me desculpará por tudo? Quem vai me conceder o perdão, hein. E quando, ao final dessa música, quando essa dor vai passar? “Pois eu ainda sinto toda essa dor, esse medo, esse tempo, eu ainda sinto tudo que nós fomos sendo-nos tão longe de nós, ainda sinto quando nossa música começa a tocar, moça.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário