Confesso que por alguns instantes consegui me entregar à escuridão
daquelas paixonites de verão. Pra ser exato, dois dias. (Não que paixões tenham
prazo de validade ou algo do tipo.) Mas, eu sem querer percebi que era inverno
e que em mim não floresce mais amor. Viu? Eu tento. Tentei de verdade me
apegar. Me vi tentando contornar defeitos, admirar coisas outrora dispensáveis.
Juro que tinha esquecido o sabor de brigadeiro nesses dias chuvosos. Nesses
dias em que chove dentro da gente. Missão suicida. Assassinei o flagelo que já
quase pulsava amor. Pausa.
É engraçado o fato d’eu ainda precisar destes suplementos pra ir
subsistindo. É mesmo triste quando a gente desiste da vida e percebe, aos
poucos, que ela vai desistindo da gente também.
Depois de tanto tempo de morada – dois dias e algumas horas – me vi à
porta de entrada de minha casa, com todas minhas bagagens postas, esperando
para serem redistribuídas pelos cômodos da casa vazia. Confesso que senti uma dorzinha. Peguei-me com receio de
desembalar meus pertences cogitando a possibilidade de um talvez.
Um possível talvez de abrigar aquele coração por mais alguns dias. De,
talvez, me render mais uma vez àquilo que eu não acreditava mais. Não deu.
Clamei por mim.
Em casa.
(Só que ainda não me sinto aqui. Ainda tá faltando
algo que eu não sei. Não me sei. Parece que desaprendi a viver nessa casa
enorme e vazia. Com esse silêncio que grita; uiva sem parar. Exorbito-me de mim
junto ao meu silêncio que me desconcerta. Mesmo aqui, em mim, não me encontro.
Desencontros. Sei que sou feito destes, mas mesmo por esses caminhos eu sempre
me via de longe. Preciso entrar em contato. Preciso tocar em mim.)
Esgoto me nessas palavras. Demasiadamente, vou ficando nas entrelinhas e, nesse ponto, já quase não me
resto. Já quase não me sou. Já quase não existo nesse medo de, possivelmente,
ter deixado partes de mim perdidas nas tais paixões que já nem existem mais.
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