segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Afinal, quantos fins existem? E quais deles você já experimentou?


O que há para se fazer quando você quer ser mais do que é?Acolhe-se uma alma - ou várias.

Eu lhe entregarei meu amor se me permitir. E mesmo que meus olhos chorem, eu lhe confortarei com meu abraço sufocante – como um palhaço, lhe trarei felicidade mesmo que meu coração sangre. Não peço nada em troca, só me permita ajudar. Permita-me mudar uma vida.

Eu sei que as auréolas não brilham mais, mas sairei em busca dos anjos que caíram e têm suas energias esgotadas pela escuridão. Os beijarei e eles se levantaram como águias. Mas eu preciso – preciso ajudar o mundo. Ele chora, ouve? Eu sim. Ouço cada súplica desse mundo eterno que agora é apenas uma poça em que esquálidos nadam e o sujam mais – sua eternidade perde a força. Ouço o cântico da chuva, deixo-a me molhar, sinto-a. Logo chegará o momento, posso sentir. Como? Como formigas que sentem a chuva antes mesmo desta tocar o chão. A sensibilidade é a palavra chave, sempre será. Você precisa sentir para ver. Sentir. Sentir. Sinta. Sinta-me aqui, aí. Quero estar com você que lê, quero abraçá-la e aquecê-la. Permita-me, sim? Assistiremos ao crepúsculo juntos; à hora em que a luz se funde à escuridão. Brindaremos ao abstrato. Mas querida, quando você acordar eu não estarei mais aí – sou peregrino. Sairei junto à aurora em busca dos anjos. Não se magoe, estarei onde a alegria se esgota; eles precisaram de mim. Vou me sacrificar ao bem do mundo que implora por salvação, vou morrer logo, mas espero fazer o bem para os anjos. É um trabalho árduo limpar as lágrimas dos milhares que caem, mas quem se não eu? 

Quem se não eu?

Logo o sol vai renascer, virá em minha janela acariciar meu rosto. Não se preocupe, ele também acariciará o seu; basta sentir. Então acorde e desperte tua sensibilidade. Você precisa dela. É preciso sentir-me para me ver. Você já pode me sentir? Estou aí ao seu lado, é só sentir. Estou sorrindo e olhando seus lindos olhos de mel. Agora aperto sua mão, eu posso sentir seu coração bater, bate mais rápido. É cálido o amor que sinto por você mesmo não te conhecendo. (Sou como a música - escrevo-te cantando.) Estou aí, e agora não mais. E como todo devaneio, você dirá: foi apenas um sonho. Doce menina, sonhos existem e por existirem são reais. Quando dormimos, eles se tornam mais reais que a própria realidade. Eu adoro sonhar e você? Porque sonhar é o melhor que podemos fazer, é nossa outra realidade. É uma realidade. Eu sonho com anjos. 

Espasmo. Vejo a doçura dos anjos - eles bailam com as estrelas. Queria que você pudesse admirar a magnificência do abstrato. Sinta e olhe para o céu.

Fui alimentar-me, devorei cada letra e cada som da canção – falava sobre sonhos. Eu me alimento de tudo; preciso me fortalecer para o fim que se aproxima. Vem como uma cobra; vem faminta e pronta para devorar mais uma alma. Pegará-me e eu não terei chances de escapar, vai sufocar-me e quebrar meus ossos como meros palitos, espremerá de mim toda dignidade. Mas eu o surpreenderei, estarei esperando por ele. Farei chá e comprarei bolinhos. “Sente-se comigo, Senhor do nada. É meu último pedido. Senhor, você gosta de chá? Espero que sim. Logo estaremos a caminho do nada e nada é fim. O vento estará soprando minhas pegadas que se cravaram em areia, eu me tornarei nada e elas também. Prove os bolinhos, eles são os melhores de Londres, Senhor do fim.” É mórbido, mas sem escárnio. Mas ainda há tempo, quero pedras, gravarei mensagens que me farão eterno. Não peço ouro por que este representa grandeza material - sou o incorpóreo.

Logo irá amanhecer e eu terei que buscar por mais almas desesperadas – elas esperam por mim. Há milhares de anjos perdidos, senhorita. Mas eu também tenho meus momentos de perdição, choro também. Choro na chuva. É quando eu a sinto, e quando ela me sente também. Ela me fala sobre tudo, e me traz mensagens das nuvens, elas me veem - sempre soube que elas me observavam. Choro dilacerante é o que me ocorre ao olhar para Lua. Carrego a culpa irremissível - senti a cólera divina que confiou a mim esse perpétuo castigo. Não estar ao seu lado para mim é um suplício, querida Lua. Fui interdito de ouvi-la, estou distante demais. 

Eu que jurei nunca deixá-la partir.

Ela é meu amor há décadas, a minha morte e meu nascimento. Só posso te observar de longe, meu amor. Medonho castigo; embora tão grande eu não possa tocá-la. É meia-noite e a Lua está em seu momento de glória. “Oh, adorada Lua, brilhe para sempre para que mesmo no fim eu possa te ver, e em momentos secos, possa molhar-me com tua doçura. Eu aceito nossa maldição, Lua Doce. Eu viverei por um tempo escasso para assistir-te, e você será para sempre do Universo. Cuide de mim, oh Lua. Abrace-me e me beije, quero sentir.” O fim logo chegará para você que lê, sim. Não se preocupe, será rápido. Além de tudo, estarei com você, sempre estarei com você, segurando a sua mão. Lembre-se disso. Preciso me preparar para sair e buscar os anjos e as almas bondosas que estão por aí. Despeço-me com um pedido, minha amiga: jamais tenha medo do fim, pois este é apenas um novo começo, entenda – sinta. 

Então, se eles não sentem, é porque não são dignos de sentir.

É chega à hora do fim.

2 comentários:

  1. Amei o texto. Amei as duas frases finais... E também amei o fato de você ter feito o que eu pedi sobre a frase abaixo do título do blog.


    E pensando dessa forma, - que fins são apenas começos -, nunca experimentei fim algum. Só começos. E todos iguais. Como se eu os visse e soubesse o fim das histórias. Como se eu lesse sempre o mesmo livro. (Um livro ruim, aliás). Eu queria que eles fossem menos... Mórbidos. Ou apenas que os "meios" fossem mais interessantes.


    (Ah, as vezes também consigo ouvi-lo chorar.)

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  2. E eu amo quando você os lê.

    Mas, para todo começo há um fim. Talvez você só viva começos, pois ainda não determinou seus respectivos fins. (Ou talvez eu não saiba de nada.)

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