segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Às vezes é preciso mais que liberdade, é preciso amor.

Veja, o céu está rosa. Rosa como os saborosos algodões-doces.

Amanhã, ao amanhecer, verei o céu azul penetrante, sem nuvens - sem pesadelos. Só azul - apenas vida. Vê como gosto de iludir-me? Mesmo doendo, eu acredito. Porque às vezes acreditar no impossível faz bem pra gente, pro coração, sabe. 

Espero pelo dia em que, ao olhar para o céu, alguém possa me ver.

Eu não vejo rostos quando olho pro céu, vejo o só. E só é muito. Mas há a voz que vem do cerne e me diz em ondas sonoras silenciosas: “Você, bastardo do amor, será para sempre sonhador insano, e o sempre te corroerá e o matará, e é pelo sempre que antes de entregar-se a morte, conhecerá outro; o morto-amor. Que é o causador da pior morte; morte da alma.” Torno-me então responsável por uma sina que eu mesmo escrevi. Mas não tenho medo da morte e espero, só. Assim mesmo. 

Procurar-te-ei. Esperar-te, esperei. 


Viajo, então, até as profundezas para buscar-te. Vou até os confins de minha mente, mas – mas acabo de descobrir que estou em ruínas, você me deixou assim. Não posso parar.

É estranho procurar por alguém que você não conhece. Estar perdido e nem perceber.

Mas eu sei, algum dia nós nos encontraremos e ah!, então vai acontecer... nada.  Não consigo imaginar o que será depois. Consigo sim, mas não sou ousado o suficiente para descrever a magnificência das tardes de verão ou a doçura e sutileza com que a neve cai. Muito menos o sabor de eterna satisfação ao correr à beira do mar, a extensão das nebulosas e a beleza feérica de voar para o inimaginável. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Borboletas. Não consigo descrever o desejo latejante que clama por apenas uma alma. Não posso unir fragmentos diferentes como peças iguais – não é completo. Embora haja corpos que abriguem mais de uma alma. 

Você já imaginou um céu azul violeta?

Vamos às derradeiras palavras; parece que chegamos ao meu limite, chegamos ao meu fim e ao seu começo. E este é o ponto onde você me mata e eu morro para que você nasça em mim.

Morri, mas agora sou só – sem você. (Eu nunca tive você.) Fui ao fundo, onde se encontra toda escória. Morri como lixo, mas renasço como um rei. Sou a fênix que renasce de suas próprias cinzas. Renasci como o frio e à noite – sou o só. Noite que sugou de mim todas as forças – não consigo mais acreditar. Estou vazio e é hora do amanhecer.

Amanheceu. As nuvens resolveram se vingar de minha falsa perspectiva ao tempo: o céu agora é banhado por nuvens, não há azul. Mesmo o sol não consegue sobressair-se. Eu não sei o que significa; guerra ou paz. (Amor não é.) Embora haja guerras que venham para o bem, há também paz que venha para o mal. Você foi meu pedaço de paz que veio para dar início a minha abrupta guerra. Pois há dias que apesar de parecerem quentes, tornam-se frígidos. E há você, que apesar de me fazer viver, faz-me morrer também. 

Porque, afinal, você nunca existiu.

Sozinho e liberto – pseudo liberdade, mas solidão veraz. E te digo isto porque não sou adepto ao amor – não mais. Não vê que com essa nova realidade vai matar-me? Não vê que já morri e continuo? Pois apesar de você não existir aí, você existe aqui - aqui dentro.

 Sim, abandonei meus deleitosos sonhos de uma vida em que flui o amor. Percebo agora que sou desprovido de complacência. Se quiser vir, pois venha. Amar-nos-emos por uma noite, uma noite rosa e azul. Será nosso segredo de perdição, nossa noite às avessas. 

O céu então deixa seu azulado sutil e dá lugar a um sincero rio rosado; pena que ambos percam a cor para o escuro que é à noite.

E ele então dá liberdade para que ela vá; pena que ambos percam para o amor.

Um comentário:

  1. E eu pensando que ler livros e mais livros me ajudaria a ter inspiração ou sei lá do que eles chamam isso de "escrever na mente".
    Só preciso ler algo seu.
    É só o que eu preciso.

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