sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Apenas marionetes cegas.

Eu não podia reconhecê-los e, apesar de ser um baile de máscaras, havia algo mais nos olhos dos adolescentes.

Não era como todos os outros dias do ano letivo, agora expeliam certo tom de menosprezo e repugnância pelos olhos - eram olhos tão negros. Agora estavam protegidos por suas máscaras – sobrepostas às suas outras máscaras da vida. Eram tão invencíveis quanto formigas, a meu ver.

Todos impecáveis, mas sempre havia alguém que pensasse – só pensasse – ser melhor que outro alguém. (Esse pensamento muitas vezes era aceito pelas pessoas mais fracas, mais inocentes que, ao aceitá-lo sentiam-se como lixo.) Um ciclo que só terminaria na convocação de um rei e uma rainha do tão esperado baile – só terminaria quando todos achassem alguém para quem se curvariam. Todos ansiosos para conhecer o ganhador, todos tão superficiais.

Mas, o que realmente é ganhar alguma coisa? O que é, realmente, ganhar um baile?
Prestígio? Auto-reconhecimento? Poder?

Vi pessoas que outrora sorriam, mas que agora pareciam tão tristes quanto quando se perde alguém. Eu vi a inocência escorrendo pelos rostos dos que choravam por vergonha de ser quem eram. Eu vi o poder que os mais fortes possuem sobre os mais fracos – de alma.

Choravam pelo corpo que tinham e eu me perguntava o porquê.
Vi pessoas lindas se torturando para possuírem uma pseudo perfeição.

Eu não era nada, mas eu podia enxergar – eu parecia ser o único a enxergar. Eu podia enxergar o sofrimento nos olhos daqueles que buscavam a aceitação da sociedade escolar. Eu enxergava grupos de pessoas rindo de outros grupos – não pareciam ser da mesma espécie. Grupos, todos estavam divididos em grupos. Grupos que exigiam certas qualidades das pessoas que o integravam. Eram regras absurdas, e mesmo assim, havia quem chorasse pelos grupos. Idiotas mesquinhos, covardes que venderiam a alma por um pedaço de nada.

Pessoas rindo, pessoas caindo, pessoas zombando, pessoas desprezando. Não havia pessoas.

Mas, por quê? Por que as pessoas abandonariam suas vidas para aderirem a uma vida que não é delas? Por que querer ser outro alguém? Eu não sabia por que pessoas boas queriam tornarem-se pessoas más.

Havia tanta indiferença entre eles. Logo percebi que não estava mais em um baile, agora tudo estava em ruínas. Havia um ringue e havia seus lutadores. Mas não havia um prêmio, pelo menos, não algum que valesse a pena lutar. Mas eles não enxergavam, eles não podiam enxergar.

As luzes acesas e a atenção voltada ao palco - anunciariam quem seriam os “ganhadores”. A platéia não aguentava mais esperar, mas no fundo todos sabiam quem ganharia. A escola já tinha sua favorita e seu favorito. (Ainda havia esperança, havia.) Uma voz soou:

- O rei e rainha deste baile são...

(Não é necessário lembrar nomes. Mas eu tomei a liberdade de classificá-los como Senhor e Senhora Superficialidade.) 

Mesmo tristes as pessoas aplaudiam, mas não por educação. Aplaudiam pelo único fio de esperança que lhes havia restado – esperança de fazer parte dos tais grupos. Eu não podia acreditar que pudesse haver pessoas como eles. Havia pessoas que humilhavam e havia pessoas que se deixavam serem humilhadas.

Mas, qual deles é pior? Quem atira a pedra ou quem se ajoelha para ser acertado?

Por um segundo eu tive curiosidade, por um segundo eu quis conhecer o sentimento de subir ao palco e ser aplaudido. Quis saber como o Sr. e Sra. Superficialidade se sentiam. Mas então eu percebi que, para subir ao palco era necessário mais do que eu tinha, era necessário beber o seco – era necessário ser como todos queriam que você fosse.

Eu nunca poderia vestir aquela mera coroa que, apesar de ser de plástico, representava uma vitória de soberba futilidade. Eu nunca poderia ser igual a eles, porque afinal, eles eram iguais a todo mundo. Mas para eles, o todo mundo jamais seria como eles.

Foi quando me dei conta de que, no final das contas, às coisas serão para sempre assim.
Haverá dois lados. Haverá quem se sobressaia. Haverá vencedores de bailes. Haverá quem chore por bailes. Haverá quem queira ser outro alguém. Haverá quem não se reconheça. Haverá quem mude por grupos. Haverá grupos. Haverá tristeza. Haverá submissos. Haverá quem se julgue imperador. Haverá cegos. E, embora poucos - haverá quem enxergue. 

No fim, todos são marionetes que dançam conforme o ritmo de um som inaudível.
(O bom de poder enxergar é que se pode também ouvir.)

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