quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Súplica do suplício.

Na calada da noite... Não, ela não era calada.
Pois havia vozes que não eram humanas, eram sobrenaturais. Não eram confortáveis, eram vozes inaudíveis que faziam de seu silêncio algo perturbador. Com seus gritos elas me chamavam e eu me reconhecia nos destroços das pseudo vozes. Elas não me vinham de dia – era na noite que se entorpeciam com a força da escuridão. Elas queriam me levar para as trevas e eu estava, realmente, me perdendo. Elas não me deixavam dormir, eu estava preso a realidade de quem só acorda e nunca dorme. O som estrondosamente maléfico permanecia em mim. Algumas vozes podiam me tocar – o arrepio era o sinal de que eles estavam por perto. Eles chegaram, eu pensava. Eu sentia medo, meus olhos tinham medo, minha boca tremia. Era como um estado de sonho-realidade, um estado que só é possível viver quando se está na linha tênue que separa os sonhos da realidade. Era aí que nas noites eu vivia.
 Eu nunca acreditei em monstros do armário, mas eu estava por um triz de me render a esse medo infantil.  A luz era apagada e então era hora dos estampidos e barulhinhos identificáveis brilharem. Almas dançavam pelo quarto – elas me observavam à noite toda. Por que, meu Deus, por que eu? Nunca houve resposta. Pareciam felizes me vendo, vendo o meu terror ao olhar e não vê-los e mesmo assim, poder ouvi-los. Eu vivia as mínguas, de dia morto-vivo e à noite sonâmbulo medonho. Eu precisava viver, eu clamava para que elas fossem embora. Eu não tinha força para combatê-las – a chama dos sonhos se apagara em mim. Não podendo vencer, eu os abrigava em mim e, com medo, não permitia que eles fossem embora – pois era a única coisa que havia me restado.
 Aos poucos a intensidade aumentava e, quando percebi, eles já me tocavam por inteiro. Eu me martirizava com meus demônios, eram meus e só meus. Alguns deles me batiam, outros me comiam e havia os que só olhavam e riam. Demônios viviam do sadismo e eu não podia lutar. No fim da noite - à aurora do dia - eles iam embora, e uma luz suave se abatia sobre mim... me fazia levantar das cinzas para mais um dia de morta realidade e para mais uma noite de tormenta. Às vezes eu suplicava para que fossem embora e me permitissem, pelo menos por algumas horas, me permitissem dormir. Eu precisava mais que tudo, voltar a sonhar. 
 Foi quando percebi que eu podia deixá-los, mas eu não queria.
 Porque afinal, eles eram meus. Eram meus demônios saltitantes, peregrinos que voltavam sempre para mim. E apesar de me machucarem, eu sabia que eles me amavam e que eram os únicos no mundo que precisavam de mim. Eles eram os únicos que se preocupavam quando eu não voltava para casa. A luz que me reerguia era apenas reflexo do bem que o mal, às vezes tenta fazer. Percebi que não eram eles que me privavam de sonhar, eu é que não tinha mais forças para aguentar os pesadelos.

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