domingo, 13 de março de 2011

Âmes.

Por mais que eu lutasse contra aquelas garras malignas, eu sabia que, eu jamais poderia me desvencilhar de minhas raízes obscuramente indefinidas. Porque eu estava em busca do que é, realmente, ser eu. Porque por mais que me dissessem como fazer e como agir, eu não queria ser outros ou compreendê-los, eu buscava minha própria compreensão das coisas; de mim. Porque compreender era o máximo que eu poderia fazer, uma vez que eu vivesse rodeado por demônios e seus conselhos pateticamente terroristas e infames. E por mais que doesse aceitar, eu sabia, eu já não possuía mais alma. Fora arrancada de mim por terríveis criaturas; não demônios e nem anjos. Por gente. Pessoas que passaram por mim e me levaram, em parte, com elas. Os sonhos, desde então, nunca mais foram como antes.


Vivi em busca de minha apatia e parece-me que a encontrei.

Amanheceu.

Mais uma vez cai, parece-me que não posso viver frio e vazio. Vejo que o que é meu virá, mesmo que eu o entregue à liberdade. Tudo está programado. E, por mais que eu renegue, está confiado a mim, e apenas a mim, passar pelos vales monstruosos e escuros do “negar mais que querer”. Hoje, mais uma vez, vivi como um gato.

Gatos mendigam por carinho, existem por carinho e vivem, solenemente, por carinho.

 Eu, eu que jurei não mais fazê-lo. Eu que jurei ser auto-suficiente. Eu que me destruo dia após dia. Súbito, me vi ajoelhado, ávido por perdão. Chega, penso todos os dias, não serei mais; permanecerei só até o fim. Mas não consigo, minha alma fora levada e de repente já estava de volta a mim. Porque a solidão ainda me fascina, você pode ouvi-la? Vejo-me atrás de pseudo palavras absortas que, buscam incansavelmente, criar-me em um novo eu. Porque não quero e mesmo assim desejo. Porque meu corpo se divide; não entre alma e corpo. Divide-se entre corpo e corpo, e ainda sim resta espaço para a alma que se opõe contra meus dois lados cárneos. Estou cansado de lutar contra minhas palavras e meus lados e minha alma. Estou cansado dessa oposição que se cria dentro de mim e que me dilacera pelas noites, e me faz vagar sem causa pela luz diurna. Viver encontra outro significado quando a exaustão encontra seu ponto ótimo e recaem sobre mim todas as ruínas dos sonhos e dos amores que não determinei fim, vivo-os para sempre. Porque estou no meio da estrada e não sei para onde ir.

Novos dias, velho coração.

Alguém me procurou em seu momento de gato e com o estrondo de minha voz perdida e encontrada, determinei um fim. Vivi e morri como gato, mas renasci como um leão faminto e truculento. Estou mais forte, minha aura brilha e expressa uma força voluptuosa e fielmente sagaz. Esse líquido que escorre por meus lábios e esse gosto azedo e deliciosamente amargo, o quero para sempre. Porque eu não sei mais, não sei por que vivo e não sei por que existo. Porque eu renego o amor, mas meu âmago implora por ele. Porque eu lhes dou fim, mas eu quero todos os intermináveis. Porque minhas palavras tornam-se escassas e mentirosas quando tentam me lembrar e revelar a mim quem eu sou, porque também não sei.

Eu não vivo por amor. (Eu não me importo.)

É mais forte que eu. Pereci diante à indecisão.
Frenesi. Epifania. Meus demônios me venceram, finalmente. Convenceram-me a partir.
Anjos. Comprimidos. Desespero. Desistir. Caídos.

A força da gravidade está mais forte. Todos os momentos desperdiçados, todos os gatos chutados. Não ter ponto de apoio nunca me fez tanta falta. Com um simples sopro minha montanha de superficialidade poderia desabar – agora eu poço entender. A solidão alcançava seu clímax, vencendo minha insensibilidade me fez cair, cai tão fundo que é impossível levantar-me. Em desespero clamei por uma fada, mas reaprendi que ela nunca viria.

Tarde demais.

Gritava. Os gritos doíam, davam pavor. Eram gritos da alma, gritos calados que soavam tão alto quanto se era possível ouvir. A voz medonhamente silenciosa alcançava o cerne. Os olhos deixavam de serem ardentes para logo se tornarem opacos, agora transmitiam serenidade – refletia cada pensamento, cada anseio. Não sentia dor, seus pensamentos é que o apavoravam. Ninguém lhe estendeu a mão, a solidão ganhava mais uma vez. Chamou pela morte, ela o ouviu. Lá estava ela, arrebatando mais um covarde sufocado por seus problemas.

Morria o covarde que perdido, sem coragem de prosseguir, desistiu.
Morte. Observo-a, está cansada: essas almas são as que mais pesam.

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