sábado, 16 de abril de 2011

Meu sangue de unicórnio.

A gente vai por aí encontrando essas (des)felicidades de viver.

Vai escrevendo sem ter destinatário. A gente vai jogando garrafas ao mar na esperança de que algum dia alguém leia; e assim imaginamos que alguém encontrou e leu e que se sentiu bem, que se sentiu confortável por não estar sozinho. Sentiu-se feliz por não ser o único a morrer mortes de vida.  (Por vezes a gente pensa que alguém a encontrou, leu, riu, amassou-a e jogou-a ao mar.) A gente sofre pelo inacontecido e pelo que nos foge, a gente pisa no ínfero e chora porque o mundo não é justo. Desfelicidades somos todos nós; fazemos malabarismo com utopias e de repente a gente percebe que não é artista circense – a gente deixa tudo cair por terra. Por terra caímos a vida inteira; a gente morre quando acorda. Porque a gente pode, a gente deve e a gente faz. E aí a vida perde sua graça que não era tão engraçada; a vida vai se contorcendo até chegar a seu ótimo – insuportável. Aí a vida pede por um pouco de felicidade, pede por coisas que a gente não pode e coisas que a gente não deve; e a gente se alimenta, às vezes faz greve de fome, mas alimenta-se com a autofagia da alma. É quando o basta não basta mais. É quando o final se torna começo e o início caminha pelo fim. É quando a gente corre somente para se sentir cansado. É quando eu venho e escrevo o que eu não entendo, mas que eu sei, alguém entenderá. E mesmo que o Alguém Entenderá não leia, eu escrevo. Porque o que eu escrevo me liberta, me liberta do Eu. Escrever me entrega à Gente e me faz sentir parte de todos e todos me sentirem insensivelmente, porque a gente sente - mesmo não sentindo. Porque eu escondo aqui – nas entrelinhas – todo meu vazio, toda minha solidão. Escondidos atrás dessa película de superficialidade que eu trago no sorriso e nas palavras e nos gestos. Eu finjo estar vivendo e finjo ter alguém, eu vou fingindo que tô levando a vida e que ela tá me levando. A gente finge junto, a gente se esconde na obscuridade dos nossos seres pra tentar ser melhor, por medo ou por qualquer outra coisa que a gente não sabe dar nome. A gente vai por aí se entregando e se guardando pro próximo; pro amanhã. Que amanhã não chega, porque amanhã é hoje. E hoje é amanhã que já passou. Eu escrevo no amanhã, escrevo no hoje e escrevo no ontem – escrevo nas linhas dos tempos que jamais se apagam, se esquecem, mas não se apagam. Escrevo minha alma em palavras, porque sinto e porque grito em escrita. Porque é aqui que desfaço e entrego-me mais uma vez, aqui eu me apresento sem minhas talas e curativos; apresento-me a você, mais uma vez o meu eu que vive intrinsecamente devorado. Devorado e devotado por meus fantasmas, por minhas figuras complexas que inventei. Invento aquilo que me destrói, invento! O doce amargo da morbidez; meu líquido de vida, minha vida escorrendo por meus dentes. É meu sangue de unicórnio, sou eu. Eu tento, eu tô tentando, eu vou levando aquilo que me mata e que me machuca e que me derrota; eu vou levando no coração os fantasmas e assombros que criei. 

Eu vou levando no coração a escuridão que me obscurece por inteiro. Eu vou levando, vou fingindo; a gente vai por aí. Se encontrando e se desfazendo – mas a gente vai.

Um comentário:

  1. Pelas palavras a gente desabafa o que grita dentro de nós.
    Estou completamente apaixonada por teus escritos.

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