quarta-feira, 4 de maio de 2011

Quem é o idiota que escreve sobre maçãs?


É como comer maçã; comer maçã é pra gente de autoestima. É pra gente que confia em si mesmo - é pra quem vive nos autos. Vivem pela certeza da mordida, pelo barulho do treme-ossos que lateja quando morde e suga-se todo o sangue. Sangue da filha da Macieira. É pra quem consegue aguentar firme; comer maçã é pra quem segue sem medo.

Eu apenas bebo. Bebo. Parto, torço, bato. Vejo seu desfazer pruma nova fruta líquida. Fruta-líquida-minha; assisto o transfigurar com olhos obcecados, demoníacos. Penso, quanta maldade há em mim, logo volta-me a lucidez restante. Vivo atrás, com medo; maldade em mim? Há maldade na maçã. Há maldade na macieira. Há maldade naquilo que se é, eu apenas crio; tento criar-me nas palavras. Projeto o que desconheço; sou o insano das madrugadas. Eu não sou o mal; o mal é o que me descreve, é minha maçã partida. Porque sou dois, sou três e sou quatro. Sou as várias partes de um todo.

Eu não, eu bebo o que é mal sem me contaminar. Contamino-me comigo mesmo; contamino-me quando penso e quando escrevo. Maçã; criei-a e agora é minha. Dona Macieira que me desculpe, mas gozo do suco da maçã como quem se delicia com seus pedaços carnudos e molhados; não líquidos. É minha a beleza da gruta que apenas eu conheço, da malignidade que apenas eu tenho poder. 

Tô bebendo a vida da fonte. Acordo morto pra beber fruta; seu cerne proteinado que me livra da morte. Da morte que já passei, sou o além da morte; eu sou a vida que brota da fruta que crio. Fruta que morre na passagem de vida; pro líquido. Líquido de vida é morte de maldade. 

Sugo seu sumo como quem bebe sangue de vida; quem bebe sangue de unicórnio pra continuar vagando sem vida, vivendo. 

Vida, maçã e amor. Pleno.

Maçã que morre mas não abandona seus nutrientes.
      É como corpo de alma que já morreu.

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