domingo, 29 de maio de 2011

Instante.


Só agora tive meu momento comigo que ainda me é obscuro, penso ao sentar-me em minha cama vazia. Agora sentado na imensidão de uma cama vazia me sinto Ser Vivo, de novo. Estremeço, passo pela loucura de vida de quem se é todo. Quem se é todo é pura loucura de abstinência de ser meio, metade, abstinência de ser dois. Agora em minha cama sinto como gente que se ausentou da vida e que recobra aos barrancos o que é seu por direito. Posso até sentir o inverso de meu bicho maravilhoso, meu fogo que queima no céu, sinto como quem ressurge nas cinzas e permanece. Porque às vezes ser fênix cansa, ser fênix correta é a expansão de vidas que me é de imenso terror. Agora me sinto como o pó que não voltará a ser fênix, entretanto ainda se é pleno de vida; de uma vida obscura e revigorante que se alimenta da saudade, da saudade que apodrece perante àquele par de olhos cegos que se ofuscam com a terrível visão do que se foi e não mais será.
Sentado na cama vivo o ápice de ser apenas pó derramado dos olhos da fênix. Agora sinto o oco que é preenchido por uma natureza nostalgicamente dividida entre quem sou e o que me fez. Só agora posso olhar o líquido do terror com calma, vejo a bola de cristal e é então que a maravilha me acontece; não vejo. Não vejo e tampouco imagino o que me será daqui a pouco - que já é. Não imagino nem a esperança de ver entre o vácuo, pois este já me é. Sou o vácuo preenchido de uma imensidão que só é reconhecida em uma cama vazia que transcende o meu pó.

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